Cotárnico
Como eu, que era tão mole; quente e passional, me tornei duro, quebradiço e glacial?
Já não consigo me apaixonar ou até mesmo sonhar com um amor.
As palpitações e o enrubescer pelo ex-colega de classe silenciaram tal qual o peito de um morto.
O desejo lupercal pelo fantasma da janela de altos capins desapareceu.
Fio por fio foram cortadas as fibras iridescentes de minha alma.
As lâminas amargas dessa condição repousam atrofiadas em minha mão.
Eu me prendi, eu me tranquei e de tanto fingir a máscara criou raiz.
Cavando tão voraz e profundo que de tão violado não fechava em cicatriz.
Não culpo ninguém porque fui eu, eu mesmo que me privei do sonho límpido de um dia, quimeras um dia ser feliz.