Exaurida

Para escrever certas coisas, é necessário adentrar outros corpos, outros mundos; para assim, se situar melhor, e passar sentimentos corretos e profundos.

Nessa missão prazerosa, começo entrando na mente de uma mulher.

Explicações e algo que lhe foi roubado, são algumas das coisas que ela quer.

'Foi quase um ano de loucuras e muita intensidade, assim foi nossa convivência; que agora, analisando, chamo de incógnita a sua existência.

Quem, na verdade, é você?

O que de fato esteve a querer?

Lembro do momento oportuno e como chegou com enorme alarde; fazendo-me transbordar, crer que ainda não era tarde.

Fundíamos como se fossemos um só, parecia que éramos donos de todos os mundos.

Como teve coragem de ir, ainda mais pela porta dos fundos?

Poderia falar de como matávamos a vontade um do outro, saciando nossos desejos carnais; porém, isso agora não importa, são coisas que ficaram para trás.

Afinal, venho lhe cobrar, quero que me devolva, e se possível, agora.

Você sabe o que é, aquilo que levou consigo ao ir embora.

Deixei de lado nossos prazeres, só consigo pensar nos momentos em que se retirou; me vejo perdida, estou num abismo em que me atirou.

Aquele espaço preenchido que havia me dado, disse-me que era só meu.

Você havia me prometido, ou será que esqueceu?

Havia trazido as peças que faltavam ao meu viver, cobriu todos os meus vazios, foi a minha solução.

Após sumir, me pergunto o porquê das coisas, se tornou minha decepção.

Nossa história foi toda registrada por fotos e algumas recordações.

Pensando, me questiono quais eram suas reais intenções.

Confesso, na velocidade que soube rapidamente me reconstruir; foi a mesma que me destruiu ao simplesmente ir.

Dentro de mim, você esteve em minhas entranhas; eu adorava tudo aquilo, será que se vangloria de suas façanhas?

O tempo parece mais lento, demora demais a passar.

Vou resistindo, controlando a vontade de tentar lhe encontrar.

Essa inquietação me domina, fruto daquilo que levou de mim.

Nunca imaginei dor tão grande, como isso é ruim.

Se não houvesse vestígios seus, talvez a regeneração interna fosse mais rápida e menos dolorosa.

Mas, lhe vejo onde quer que eu olhe, estou me tornado odiosa.

Me equilibrando em extremos, tento manter o equilíbrio e a calma.

Mas, como conseguir isso, tendo você roubado minha alma?'.