Moça
Quarto das ilusões fantasiada em canções,
mensagens de texto no calar da noite.
Uma moça apaixonada, dentro de um vestido vermelho,
rindo das maiores histórias que poderiam existir.
Trancada entre a janela do terceiro andar,
sonhando com o dia em poderia tocar em tua mão.
Há muito tempo que ela se sentia perdida em cartas
vazias de letras com pequenos rabiscos.
Ela foi embora deixando uma mala há três mil quilômetros,
sabendo que poderia ter estado a menos de um metro.
Deixou um mapa com a última rota,
rasgou todos os rabiscos à meia-noite de um meio de semana.
O mundo é imenso demais e talvez ela tenha que aprender
que o amor dela não é de uma menina dos livros.
Qual será o próximo rabisco que ela deve rasgar?
Qual será a próxima carta que ela tentará escrever?
Qual será a próxima vez em que ela usará um vestido vermelho?
Ela caminha sozinha, gotas de chuva pelo chão,
o sol parece escondido em olhos castanhos.
Há uma Estrela Vésper e o que ela mais sente
é vergonha das coisas que ela mesmo diz, profetiza.
Há um roteiro sobre a mesa em que ela digita
seus maiores desesperos de mais uma semana.
O mundo é pequeno demais e talvez ela tenha que aprender
que nem tudo cabe em versos e estrofes.
Risadas de uma janela da frente, o desespero da própria janela.
O sentimento de uma moça que não consegue olhar o céu,
senão o chão que está há mais de dezesseis metros.
Uma mensagem de texto ou uma ligação para ouvir histórias,
que a façam estar em uma dimensão que nunca foi dela,
nem quando tem os próprios escritos ou as próprias vozes.
Quando será a próxima vez em que ela poderá sair com segurança?
Quando será a próxima vez em que ela vivenciará um sonho?
Quando será a próxima vez em que ela poderá contar algo?
Música alta nos ouvidos, os sintetizadores das lágrimas.
Perdidas nas vozes confusas como a mapa que ela deixou.
O caminhar de cinco anos escondido em um armário,
o desespero dela que não sabe mais para onde fugir.
A moça que parecia saber escrever versos e poemas,
sumiu num estalar de duas semanas, em pequenos planos.
Nada de novo de alguém que já viu a própria alma.
Ela escreveu isso, porque precisava de uma testemunha.
Ela escreveu isso, porque chovia de noite.
Eu escrevi isso, enquanto todos assistiam TV.