Carne Lassa

"Não sou obrigado a sentir dor"

ele disse, logo para mim

que atravessaria por um chão repleto de cacos de vidros, descalça,

só para encontrá-lo do outro lado.

Talvez eu seja meio sádica ao querer ver

os outros sentirem dor por mim.

Quão miserável eu sou para isso?

Muito miserável.

Migalhas... é isso que eu sinto que recebo, baseada no tanto que eu consigo sentir,

o que eu recebo, não é nada,

nada além de migalhas.

Meu peito arde como um fogaréu,

e queima como gelo.

Me sinto queimando, mas estou fria,

como a neve.

Pequenos flocos congelantes caem

e se recostam sobre a ponta do nariz.

Irrelevantes, mas que nos fazem sentir, incomodam, queimam, mas afinal,

como pode o gelo queimar?

Um peteleco e nos livramos dele,

mas a sensação, permanece

e a vermelhidão, aparece

mas logo, a gente esquece.

Ah! Essas sensações

dessa carne lassa

que vem e que passa,

que afasta e que abraça.

Tão fácil rimar junto a dor,

versos fáceis, suspiro profundo... 

será que algum dia eu vou sentir

que recebo esse tal de amor?