CORES MORTAS
CORES MORTAS
Naquele 1º de abril,
cores vivas,
cores da vida,
avermelharam o chão;
ficaram registradas
em mim,
como a cor da derrota,
apesar da resistência.
No dia seguinte,
frases tortas,
cores mortas:
fotografias em preto e branco
ilustrando as melancólicas
páginas dos jornais.
Hoje, diante da tempestade,
alimentando a verdade,
ainda ilustram os livros,
que não morrerão jamais.
A violência em repouso
- sono profundo ! –
nos arquivos
da maldade,
em nossas capitais,
são provas cabais:
retratos vivos
que a presente amnésia
pretende sepultar.
O que no dia anterior
se via,
no dia seguinte
se confirmaria:
a calmaria
que veio nos calar.
No leito do sono,
almas trevosas
ameaçam se levantar
- para nos acordar –
- para nos assustar – ,
- e, se possível,
para nos matar.
NELSON MARZULLO TANGERINI