Alecrim dourado
Cão selvagem, raivoso, indomesticável!
Cheia de si, orgulhosa, impenetrável!
Mestra, oráculo, sábia como um toco
Alma elevada, elevada no poço!
És o inferno, e por isso teu corpo é quente!
Áurea de demônio, incrédula, mas se diz crente.
Maldito seja o pobre coitado que te ganhar
Pois esse bônus, vos juro, só causa pesar
Falsa, mascarada, gatuna da noite!
Teu beijo é tão doce, tal qual o açoite!
Praga infernal, que tortura e mata
Pobre animal, felina, uma gata.
Não fala, murmura, palavras vulgar
Meu deus, que tortura, ouvi-la falar!
Sem nada, só eco, na cabeça vazia
Se sente uma nobre, essa pobre vadia.
Meu deus, que vergonha, dizer que fui dela
Uma alma sebosa que se passa de bela!
Meu deus, que escárnio, jurei meu amor
De corpo tão bela, por dentro um horror!
Se pudesse, um dia, no tempo voltar
À ela, megera, mandaria pastar.
Se o mundo, amanhã, acabasse assim
Arrependo-me, somente, de tê-la tido em mim.
02 de novembro de 2021
Natal/RN