NEM SAUDADE (ou Depois do Adeus)
Se não me sinto poeta
e se de fato nunca o fui,
em tudo minhas razões
não vem do desamor
que me assola nem da dor
resignada que em mim ficou,
mas dos versos calados
na poesia que órfã de ti
de repente se encerrou.
A música que toca então
não te evoca mais as horas
jubilosas dos dias de encanto
radiante e cheios de sonhos,
mas apenas o silêncio do pouco
que hoje de mim se fez.
E o mal que me corrói não é
a da ânsia que me vem na noite
insone no claustro da minha solidão,
mas a da saudade que não brotou
na alma de quem um dia me quis
e me amou entorpecida de paixão.