AI AS PALAVRAS, AS PALAVRAS
Por onde andais, ó palavras vadias,
Que da poesia sois o desalento?
Andareis por aí, feitas ao vento
Desde o fluir da Luz, tão fugidias…
Por onde andais, palavras vagabundas,
Que da poesia sois desinspiração?
Andareis por aí, feitas ficção
Desde o abrir da Luz, e não fecundas…
Por onde andais, palavras desordeiras,
Que da poesia sois desarmonia?
Andareis por aí, feitas fantasia
Desde o tocar da Luz, andarilheiras…
Por onde andais, palavras desavindas,
Que da poesia sois desaconchego?
Andareis por aí, feitas de arremedo
Desde o parto da Luz, e às berlindas…
Por onde andais, ó vis incendiárias,
Que da poesia sois contradição?
Andareis por aí, a fingir paixão
Desde o esbater da Luz, e arbitrárias…
Por onde andais, ó palavras malditas,
Que da poesia sois condenação?
Andareis por aí, em deambulação
Desde o cair da Luz, e interditas…
Por onde andais, palavras traiçoeiras,
Que da poesia sois mui desumanas?
Andareis por aí, feitas doidivanas
Desde o morrer da Luz, pelas esteiras…
Por onde andais, ó palavras vendidas,
Que da poesia sois a perdição?
Andareis por aí, sem tom nem som
Desde o fechar da Luz, e convencidas…
Ai palavras, palavras sempre estéreis,
Que da poesia sois a fealdade?
Andareis por aí, da aldeia à cidade
Desde uma nova Luz, quiçá sidéreas…
Ó palavras, palavras, qu´ é dos Poemas
Que são da poesia a razão e a fé?
Andareis por aí, em louca maré
À procura de Luz, mas sois dilemas…
Ai as Palavras? O Destino as traz
Pois são da Poesia o abrigo certo
Matando a sede vinda do deserto,
Recriando a Luz, o louvor e a Paz.
E vós, ó palavreiros convencidos,
Que da falsa poesia sois delatores,
Emendai essa bússola e os valores
E tereis vossos projectos vencidos.
E vós, ó doces Musas protectoras,
Que sois a âncora de todos os poetas,
Fazei-os enveredar por linhas rectas
Na busca das Palavras redentoras!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA