A ela restam-lhe as amoras

A vontade é gritar seu nome
até lhe ensurdecer.
Este amor desatinado é o quê?
Que a enlouquece em suas horas
e deixa pele e alma afloradas?
É o desejo louco que a tome.
A voz, por mais que tente, emudece
confusa, inerte, represa a malícia
faz de conta que não vê
a indiferença que a consome.
Tenta fugir dos devaneios

deste apaixonado sentir
coloca-os de lado

vem para junto de fotos
e telas penduradas
de rostos e olhares imóveis
que parecem censurar-lhe:
– Por que choras?
O cheiro do mato a acaricia

volta ao pé da amoreira
onde amoras estão caídas
ávida prende-se a colhê-las
sem saída devora-as.


@soninhaportopoa
Soninha Porto Flor
Enviado por Soninha Porto Flor em 23/10/2020
Reeditado em 29/10/2020
Código do texto: T7094590
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