CANÇÃO DO MARGINAL!

– Eu sou o povo!

Venho de longe...

Venho de longe tão cansado e triste...

Eu sou a plebe! Eu sou um marginal!

Eu sou o coração da alma nacional!

A minha casa é um caixão de lixo!

e o meu telhado, um saco de aniagem...

Não tenho nada!

Mas tenho a liberdade, o amor e o sofrimento...

Alentos desta vida!

Ouço ao longe um grito de amargura...

É a mãe da minha gente;

é a minha pátria amada

chorando de desgosto à minha desventura...!

E sob o látego de ódios virulentos

ouço a voz do capataz

– Trabalha! Trabalha negro!

E ao compasso dos ritmos metálicos

sinto n’alma o coração industrial...

Minh’alma se revolta em convulsões de angústia...

Meu corpo se estremece em convulsões de amor...

E então eu vou cantando tristemente

sob a máscara de alegre Carnaval:

– Chiquita bacana

Lá da Martinica!

Se veste com uma casca

de banana nanica...!

Eu canto e rio pra afogar a mágoa

do sonho que morreu...

– Que importa a desdita da existência?

– Que importa que eu morra ou que padeça...?

os meus irmãos bebem meu sangue

que é o suor da produção...!

E este gigante que mora dentro d’alma

estremece e marcha no progresso

sobre o cadáver da plebe esfaimada...

E as taças de vinho espumejante

tirintilando nos palácios majestosos

são a música irônica de um hino

– Um novo Hino Nacional!

(Rio Grande-RS, 1947)

Attilio dos Santos Oliveira
Enviado por Attilio dos Santos Oliveira em 03/04/2020
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