O Tempo Passa...

O tempo passa

pelos meus sapatos

Na calçada, feita em pedra e lama

Passa, com destino ao nada

Enquanto eu passo pela porta

Passa a hora pelo lampião de azeite

Passa pela chama de uma vela que minh'alma aceite

A luz da aurora, a fresta da janela, o dia acorda

Nada mais te resta, que senão viver

Passa pelo leite derramado

Passa e não pelos ponteiros

Fica ali, no tosco vidro mostrador

Que, fosco, perde o brilho

Passa...e dessa vez digo depressa

Não se faz passado como antigamente

E mesmo que as luzes iluminem

As vitrines do mundo já nem chamam mais tua atenção

O tempo passa pelo coração que bate

O tempo passa e não pelos ponteiros

Passa pelo lado avesso, aos olhos de meu pai

Depois vai lá, ter com meu filho, que mora distante

Corre pela gente, mas de modos diferentes

O tempo passa como um raio pela água do café, fervente

A gente nem se lembra mais

Quantas colheres colocou de quê

E quando vê

Tá bebendo por engano

Aquele, que era de ontem

O tempo passa lento aos apressados

Que por mais quaisquer segundos que eles contem

Perdem momentos aos montes, milhares, sem sequer saber

Que a semana de amanhã foi mês passado

O tempo passa lento aos infelizes

Que impõe crises à felicidade

E moldam fatos concretos

Pra poder ser infelizes

O tempo traz relatos

Dando conta sobre um cínico egoísmo

E desde que o mundo é mundo

Este sim, sempre subiu de patamar

E há de durar pelo tempo...que o tempo há de durar

Infelizes sim, de fato e até o fim

O tempo

Passa pelos meus sapatos

Na calçada, feita em pedra e lama

Ando devagar de medo, pode acontecer

de eu escorregar e de cair, cair como a noite

Porém

Além de perder compromisso

O cuidado é todo em vão

O preço disso é o passo em falso, o tropeção futuro

Abjeto ser, que vem devagarinho, ele vem

Não ponho a culpa em ninguém

Os caminhos do mundo nunca foram, nem jamais serão

Perfeitos como os cegos olhos a trilhar

O rumo escuro e fácil, rumo à perdição

Esse sim, tem prumo reto, argúcia, perfeição.

Edson Ricardo Paiva..