MEDO E AMOR
O relógio bate as horas
A casa está vazia
Eu me pergunto – Onde moras?
O gato corre e mia...
A noite já vai alta!
Custa a passar o tempo...
O gato mia e salta
Baixinho assobia o vento...
Tremo e gemo assim nervoso
De volúpia e desejo
Tenho medo do escabroso
Do gato a sorte eu invejo...
Penso, pensando te vejo
Nas gazes dos teus vestidos
à minha espera em desejo
lembrando prazeres idos...
Como é triste o meu sofrer
Não tens pena de mim?
Por que me fazes querer
A ti, de tal modo assim?
Mas eis que batem à porta!
Três pancadinhas singelas...
Que tenho? Que me conforta?
Quem chega em alta hora? – É ela...
(Rio Grande-RS, 1944)