O DRAMA POÉTICO

“Inquérito à Poesia”

Ó Poesia,

Já ninguém te escreve,

Já ninguém te lê,

Já ninguém te diz,

Já ninguém te ouve,

Já ninguém te canta,

Já ninguém te quer,

Já ninguém te gosta,

Já ninguém te ama…

Ó Poesia,

Já ninguém te atura,

Já ninguém te entende,

Já ninguém te sente,

Já ninguém te compreende,

Já ninguém te compra,

Já ninguém te vende

Porque tu és um estorvo

E uma grande seca…

Ó Poesia,

Se andas de seca em meca

E jamais te encontras

É porque andas perdida

Nos meandros da vida, ó poesia

Sem escaparates nem montras…

Antes eras prazer e ócio –

E às vezes terapia –

E hoje nem sequer negócio.

Ó Poesia,

Por onde andam teus mentores,

Por onde andam teus poetas,

Por onde andam teus valores,

E as virtudes circunspectas?

Por onde andam teus talentos,

Tuas febres e paixões,

Teus arroubos e emoções

Tuas marés e movimentos?

Ó Poesia,

Se existes, és um vazio,

Um vazio e um drama,

E, enredada em trama,

Já não és desafio,

Antes, és um melodrama

E… tu, sem eira nem beira,

És, de qualquer maneira

Um deserto fantasma!

Ai, ó Poesia,

Se soubesses como os poetas

Te veneram, te adoram,

Mesmo em forma bizarra

Reencontrarias a calma,

A calma que mataram

E que era do mundo a alma…

O mundo que não desgarra,

Ó Poesia, faz-te chama.

Neste inquérito que te faço,

Meu coração qu´ extravasa,

Quer rasgar este embaraço

Num audaz golpe de asa!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 12/09/2019
Reeditado em 12/09/2019
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