Último Ato
Último Ato
Num dia desses, fui revisitada pela Felicidade.
Ela chegou vestida de musgo esperança,
enroscada no arco do cupido de sua boca.
Eis que ele chegou inundado de afagos,
num instinto disse até que sentiu minha falta!
Por um apenas um momento,
pensei que ele tivesse lido as Cartas de Evita
e que o Ponto G de Anita o tinha avivado!
Acasalamos em busca novamente de chuva
e jorramos num clímax de orvalho.
No entremeio da presumível despedida,
ele voltou a ser o mesmo de outrora:
Metódico.
Cético.
Capitalista.
Devolveu ao seu bolso amarrotado,
minha Carta de Alforria onde jazia
a data exata da ilusória liberdade.
Aliás, ele deve ter percebido sim,
a emoção intensa que me causa.
Julga-me sua Escrava Branca, ainda!
Eu me sinto como num espetáculo
onde dentre aplausos entusiastas,
sou apenas a cortineira do cenário,
que no término do ato cata pétalas,
que ninguém quis levar para casa.
Fragmento do livro
FLORBELA, NÃO EU
Tributo a Florbela Espanca