A Porca e a Saudade
A saudade é como a porca
Que passo a passo se firma.
Mas quando a rosca entorta
Ou quando a ferrugem mina,
Nem que se bata com força,
Saudade ou porca declina.
A saudade lhe apert'o peito,
Como a porca aperta o fuso.
Mas, nenhuma saída eu vejo,
Nem há solução que dê jeito.
Uma quer só o seu parafuso,
A outra só quer o seu beijo.
Oh, Porca! Quanta saudade!
De um parafuso espanado
E quanto desassossego...
Quando podias, na verdade,
Não o quiseste ao seu lado
Agora qué-lo tu atarraxado?
Sucata, virou o parafuso
e nos tornamos passado.
A saudade é quem maltrata,
a ferrugem é o resultado,
E a porca ficou sem uso...
Eis o que o poema retrata.