Por último

Você me amou primeiro, você disse as palavras

eu falei bem depois, minhas palavras atrasadas

isso não sou eu quem diz

mas sim os fatos.

Você disse que eu te fazia feliz,

eu te disse que era puro acaso.

Eu sorri porque achei engraçado,

você achou que era do meu agrado.

Não vou saber ao certo, pois resolvi arriscar,

mesmo não sendo do meu feitio amar só por amar,

só para espantar a solidão,

que há muito já era minha amiga.

Ela me disse para esperar a ocasião.

Não a certa, pois improvável é a vida.

Sim, a inesperável.

Mesmo assistindo a historia se repetir,

eu cria no inacreditável.

Dei uma chance para ver aonde podia ir,

e esqueci que o tempo dispara,

ainda mais estando parada.

Meu coração movimentava,

a passos cada vez menos cuidadosos.

Você via os sinais, gritantes, silenciosos.

Era mero espectador,

não creio que tinha consciência,

um plano, um propósito que for.

Eu sempre estive a anos luz,

distância que você imaginava,

eu corria de volta, encurtava a estrada.

Era tortuosa e eu passava pelas tangentes,

atalhos inexistentes,

vezes encontrando a porta fechada,

porém destrancada.

Eu a abria, não sem antes bater.

Entrava de meio corpo, como quem tem pergunta a fazer.

As vezes encontrava o silêncio, outras meia resposta.

Saía e fechava a porta.

Atrás de mim, mais perguntas,

essas que ainda não sei se tem chave.

Procuro dentro de mim algo que tenha deixado para trás,

guardado em um canto que talvez eu já nem lembre mais.

Não foi suficiente?

Ou já não era nada?

O que mais e um dia enche,

e no outro é esvaziada?

Isso é algo que acabe de repente?

ou há muito tempo já se desgastava?

Eu te amei por último, verdade

mas não eram palavras apenas.

Eram atos em versos, estrofes, poemas.

Eu era uma janela, despida de grade.

Mostrava o mundo que podia conhecer,

ainda sem poder conceber

uma ideia tão ousada.

Não vou negar que me sentia amada,

mesmo com humildes gestos, é possível saber.

Eu esperava mais, mas não exigia.

te queria bem, e como eu queria!

Se você estava bem, bem eu estaria.

Mas já que não está, entendo a despedida.

Ninguém se prepara pra uma partida,

senão para um "até logo", quanto menos para um "adeus".

Não foram suas palavras, são apenas versos meus.

Com um abraço um desfecho,

com outro uma promessa,

de escrever um outro trecho

na sua e na minha historia, sem tanta pressa,

talvez um dia ainda se enlacem.

Avancemos, provavelmente não mais juntos,

até que as coisas se encaixem.

Apenas lado a lado, ainda que custe muito.

Talvez dessa vez eu chegue primeiro,

aonde quer que estejamos indo,

que por favor ninguém te detenha,

Melhor que chegue por ultimo, do que nunca venha.

Lívia Helena Rodrigues
Enviado por Lívia Helena Rodrigues em 06/06/2019
Reeditado em 09/06/2019
Código do texto: T6666578
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