Porcelaine

Viúva de nascença malfadada pelo signo,

seu choro se abafa pela cabra em berro cínico

ululante, por cada amante vindo em consigno

calejante, revestindo o peito em apocrínico.

(À boca um isqueiro e todo um semblante refeito em gás.

Incendiária ao fogo imune - afortunada em seu jogo mordaz.)

Porcelana imune ao tempo, os olhos são um terror onírico.

Porcelana estéril e frígida na qual o tempo crava um panegírico.

Porcelana maldita! Bendito realizar do artifício vampírico.

Porcelana que permanece imponente sob o céu safírico.

Porcelana enlutada - por mil perdas cerra-se em gelo.

Enlutada pelo amor esfacelado - não há modos quaisquer de refazê-lo.

Ártico é o peito, agora um campo cinza onde brinca de tiro ao alvo.

Ártico, por infindáveis camadas de gelo mantido a salvo.

Viúva de nascença malfadada pelo signo,

ocultando cadáveres ao peito para que jamais levantem.

Viúva de porcelana em benfazejo amor maligno,

oculta em si amores para que em si não se quebrantem.

Vinícius Alvarenga
Enviado por Vinícius Alvarenga em 19/04/2019
Código do texto: T6627339
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.