Viver a morrer

Por favor agora não!

Não me venha ao ouvido com tuas lições,

sobre os erros que não posso apagar;

Não lhe peço que me cure as feridas,

só lhe suplico: não arranque esta crosta com o sopro das tuas lições,

sou réu das minhas chagas,

e esta sentença já não consigo suportar.

De ti não espero consolo,

então só lhe peço: deixe-me a sombra repousar,

e lentamente desatar as correias das sandálias,

e em silêncio olhar para as feridas,

e perceber com o ardor das lágrimas que nela derramo o porquê não devo neste caminho retornar.

Luto com aquelas imagens que coroam meus sonhos

tornado em pesadelos o que outrora foi um conto.

corro até onde poder em minha imaginação,

elevo a força da minha mente, no auge de sua limitação.

Fujo querendo no mundo me perder,

como um lunático procuro desfazer-me desta voz ensurdecedora

então me escondo no epicentro de minha alma,

almejando freneticamente achar um lugar calmo tranquilo e silencioso.

todavia, faço parte deste quebra-cabeça do qual as peças espalhadas em meu peito estão.

Ela é o feto que em mim se enraizou e cada metragem daquela peça é o cordão umbilical que me faz voltar. Morro toda vez que mato vestígios seus. Como posso dar a luz sem que este cordão saia para fora?

Estou exausto, quero de tudo me desfazer, preciso sentir outra vez minha cama como o lugar de descanso

Deito-me e não tenho gozo, as noites me têm sido um verdadeiro assombro

Nem que eu viva sem meu corpo,

dela vou me desfazer,

pois já não posso mais viver a morrer.

Telma Dissengumuka
Enviado por Telma Dissengumuka em 07/04/2019
Código do texto: T6617629
Classificação de conteúdo: seguro