Viver a morrer
Por favor agora não!
Não me venha ao ouvido com tuas lições,
sobre os erros que não posso apagar;
Não lhe peço que me cure as feridas,
só lhe suplico: não arranque esta crosta com o sopro das tuas lições,
sou réu das minhas chagas,
e esta sentença já não consigo suportar.
De ti não espero consolo,
então só lhe peço: deixe-me a sombra repousar,
e lentamente desatar as correias das sandálias,
e em silêncio olhar para as feridas,
e perceber com o ardor das lágrimas que nela derramo o porquê não devo neste caminho retornar.
Luto com aquelas imagens que coroam meus sonhos
tornado em pesadelos o que outrora foi um conto.
corro até onde poder em minha imaginação,
elevo a força da minha mente, no auge de sua limitação.
Fujo querendo no mundo me perder,
como um lunático procuro desfazer-me desta voz ensurdecedora
então me escondo no epicentro de minha alma,
almejando freneticamente achar um lugar calmo tranquilo e silencioso.
todavia, faço parte deste quebra-cabeça do qual as peças espalhadas em meu peito estão.
Ela é o feto que em mim se enraizou e cada metragem daquela peça é o cordão umbilical que me faz voltar. Morro toda vez que mato vestígios seus. Como posso dar a luz sem que este cordão saia para fora?
Estou exausto, quero de tudo me desfazer, preciso sentir outra vez minha cama como o lugar de descanso
Deito-me e não tenho gozo, as noites me têm sido um verdadeiro assombro
Nem que eu viva sem meu corpo,
dela vou me desfazer,
pois já não posso mais viver a morrer.