POEMA PARA O INSENSÍVEL

Digo-lhe o que sinto, mas você não sente,

O que indigna-me lhe é indiferente

E o que me fascina de tão fascinante

Não lhe traz reação, só ações como antes.

Nada toca-lhe o coração

Nem mesmo fenômenos da natureza,

Sua alma sempre avessa à beleza

Desconhece a exaltação.

É penosa tal convivência...

Quando sinto o peito que arde

Ouço você dizer é tarde

E está sem paciência !

É incapaz de notar se um sorriso

Carinhoso contém ou não interesse;

Vê nisso, sempre, interesses escusos,

Pois que no seu coração há pisos

De madeira sobre o porão, são difusos

Os processos, é como se não vivesse.

No que concerne a mim, o que me tolhe

É ter de recebê-lo, no dia -a- dia,

Como um igual, como um irmão;

Ignora que quem planta colhe,

Pauta-se numa pretensa mediania

Que é a falta de emoção.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 31/10/2018
Reeditado em 31/10/2018
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