HERANÇA
De Garanhuns herdei a frieza
dos rigorosos invernos
Um olhar de susto
do buracão da Liberdade
A apatia por amizades,
pois todas elas caçoavam de mim;
Por causa da minha cor,
do meu cabelo, dos meus traços...
Tenho ainda a indiferença empática
por que a angústia em mim
era maior que em qualquer outro
A minha aparente calma
vem do medo das longas estradas
que me conduziam sempre a noite
par a igreja seis dias semanais
De Garanhuns herdei
o antigo silêncio da Lacerdópolis
Garanhuns é terra de corredores
eu corria para fugar
do que fizeram com o meu eu
então tornei-me ensimesmado
Enclausurado entre livros e discos
para nunca mais desapartar
Tá tudo aqui ainda...
Eu sou neblina que ofusca o previsível
Eu sou o cheiro dos eucaliptos do Euclides Dourado
Eu sou o medo do Pau Pombo à noite
Eu sou o mistério das horas do Relógio das Flores
Eu sou o a tristeza do Cristo crucificado no Magano
Eu sou a saudade de Dominguinhos
Em mim há muitas Garanhuns
e eu sou todas elas