O teatro da dor

Nas cenas de amor, ele sempre sorria

Nas cenas de terror, ele nunca temia

Nos palcos brilhava com maestria

Escondendo a sua estranha mania

De ser ator.

Em dias de tédio, ele sempre representava

Quando a aventura não mais lhe bastava

Aumentava os riscos de sua vil batalha

Dos egos alheios, o controle, dominava

Por ser ator...

Moças carentes, alvos fáceis de sua torpe fantasia

Dono de um carisma excitante e de muita simpatia

Fazia surgir interesse em quem por ele sentia

A admiração por um alguém que ele, ser, fingia

Era a dor...

Para não enfrentar os seus internos bastidores

Revestia-se de brilho nos olhos dos amores

Alheios ao seu espetáculo sutil e sombrio

Tornavam-se as vítimas de um sonho frio

A si rejeitava...

E, com sua fraqueza, não se conformava

Preferiu ferir a quem dele se aproximava

Dos frívolos corpos, sem remorso, desfrutava

A quem a ele dava o amor, ele desprezava

Do seu interior, era proibido fazer morada

Sem medo, tornou-se envolvente feito água

Ao querer livrar-se da pedra, a ela contornava

Se valia do ilusionismo enquanto técnica de arte

Para que suas presas sucumbissem ao descarte

Após a ele vos conceder a nobre confiança

Fê-las crer que cicuta era uma doce planta

E assim seguia...

No seu cartaz de zombaria, se valia das máscaras

Confinado no seu próprio enredo de carapaças

Ora era bom, ora lhe desapontava a digna virtude

Era um ator no teatro da dor causando dor amiúde.

03:34h. 18/07/2018.

Maisalobo
Enviado por Maisalobo em 18/07/2018
Reeditado em 17/12/2018
Código do texto: T6393097
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