People Alone

O inverno nas ruas movimentadas de New York denunciavam o frio em que se encontrava meu apartamento. O único calor que me mantinha na temperatura ideal do meu corpo era o aquecedor e a lareira da sala de estar. A melodia que eu escutava era de tristeza, de dor, angústia.

Com minhas vestimentas, estava pronta. Coloquei as únicas peças que faltavam em mim: luvas de frio. Peguei as chaves do meu apartamento vazio e abri a porta em direção à algum lugar que não me lembrasse tantas coisas como hoje. Em passos lentos, vou seguindo rumo a uma cafeteria próxima de um parque onde costumava frequentar. Olho em direção ao local e vejo apenas neve cobrindo todos os brinquedos, nada mais.

E então me surge na memória as lembranças. Como são doloridas. Era um sonho que havia tido e havia caminhado até este parque, sentada no balanço enquanto tentava desesperadamente controlar uma dor que até então era desconhecida por mim. Mas, meu interior sabia. Talvez fosse um presságio do que poderia vir acontecer hoje.

Novamente vi o balanço coberto de neve e uma lágrima começou a surgir em meu rosto seguida de várias outras. Não pude evitar, meu coração inexistente estava sangrando conforme recordava do sonho em detalhes até chegar ali onde deveria estar. Me balançando com uma melodia triste e melancolia sem fim.

Uma festa. Pessoas conhecidas por mim. E ele. Com mais duas pessoas ao seu lado… Ou melhor dizendo, duas mulheres sentadas em seu colo no qual me assombravam do meu medo. Meu semblante triste e desconfortável denunciava o quanto queria sair dali. Tentei continuar e até então ficar na sacada com um conhecido jogando conversa fora para não olhar o que queria, mesmo sabendo que já tinha sido vista. Não queria ver, nem saber, nem nada.

Resolvi sair dali e antes de abrir a porta do apartamento onde ocorria a tal festa com os amigos reunidos, o vi. E então, estava com a segunda mulher sentada no colo, suas mãos passeavam calmamente em suas coxas fartas e brancas, desfrutando dos seus lábios pintados de vermelho escarlate com uma provocação sem fim. E aquilo foi o meu pesar, meu sofrer. Corri com todas as forças que achava que não teria após ver tal cena e então cheguei ao parque, me sentei ao banco e me balancei aos poucos com meu semblante cansado, triste, com lágrimas. O final era ele vindo me abraçar. Mas a realidade é bem diferente do imaginário.

Lembrar desse sonho foi apenas a ponta do iceberg que se apossou da minha vida amorosa. Que aliás, não é lá de muitas vitórias. Pelo contrário, é apenas de derrotas e os opositores sempre estarão comemorando a minha derrota pessoal.

Talvez alguns não estejam. Outros, não saberia dizer muito bem porque ninguém conhece ninguém de verdade. É quando me dou conta que estou sentada no mesmo balanço, me balançando com uma melancolia acima do normal de qualquer ser humano que pudera ter sentido. Meu corpo tremendo de frio demonstra o quão desprotegido está e sem ninguém poder amparar o tamanho estrago já feito.

Que triste sou. Lamentável.

Os olhos ardentes de tanto chorar começaram a pesar, a fraqueza do meu corpo se apossava aos poucos. E a pergunta que saia de meus lábios rachados saia fracamente antes de cair na neve.

“Por que não me amou?”

Questionava-me várias coisas, mas a última das questões me assolava. E assombra-me saber que nunca terei um amor de alguém que eu ame um dia. Nem de um ser vivo ou até mesmo de um morto. E me pergunto o porquê todos os dias.

Layla Mitchell
Enviado por Layla Mitchell em 07/07/2018
Código do texto: T6384185
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