Conforto

Embora Basílio disse que sabia,

mal pôde acreditar quando caiu.

Fitava chocado, olhos em agonia,

mas a dor da queda ainda não sentiu.

Agarrava-se à corda com primazia,

seus dedos nodosos em um aperto vil.

Clamava veemente à Deus, carecia.

“Arranca-me desse malogro”, explodiu.

As mãos sangravam, e a mente dissuadia:

“Ninguém jamais saberá que desistiu.”

Afrouxou os dedos, a corda parecia fria, mas

ao encarar o abismo, o medo o nutriu.

“Se quer subir, suba.

Quanto tormento tu crias!”

A onisciência por fim interferiu.

Com o esforço de se erguer

seus dentes amarelos rangiam,

e ao sangue e às dores Basílio resistiu.

Galgou os vários metros,

mas sua vontade sumia,

um medo terrível o abateu.

Não importava, para ele,

se escalava ou caia,

confortava-o estar na corda,

e por fim

então

cedeu.

Lucas Gabriel Rangel
Enviado por Lucas Gabriel Rangel em 30/05/2018
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