Conforto
Embora Basílio disse que sabia,
mal pôde acreditar quando caiu.
Fitava chocado, olhos em agonia,
mas a dor da queda ainda não sentiu.
Agarrava-se à corda com primazia,
seus dedos nodosos em um aperto vil.
Clamava veemente à Deus, carecia.
“Arranca-me desse malogro”, explodiu.
As mãos sangravam, e a mente dissuadia:
“Ninguém jamais saberá que desistiu.”
Afrouxou os dedos, a corda parecia fria, mas
ao encarar o abismo, o medo o nutriu.
“Se quer subir, suba.
Quanto tormento tu crias!”
A onisciência por fim interferiu.
Com o esforço de se erguer
seus dentes amarelos rangiam,
e ao sangue e às dores Basílio resistiu.
Galgou os vários metros,
mas sua vontade sumia,
um medo terrível o abateu.
Não importava, para ele,
se escalava ou caia,
confortava-o estar na corda,
e por fim
então
cedeu.