Herança
Filho da dúvida e do medo,
sou este composto de desamor e segredo
que as paredes deste quarto insistem enclausurar,
que as luzes - embora acesas - tentam apagar
neste vácuo de coração, nunca aprendiz de amar.
Criança nua, vestida de chuva
de lágrimas corridas a formar um mar,
um oceano que de dentro se vê apequenar
a favor de quê?... De amar?
Pobre alma insossa: voa na terra, caminha no ar.
Homem adulto, tem a saudade como DNA.
Herança maldita, memória do que não pode voltar.
E vive sem saber de si, ora quer ficar noutra partir,
enquanto começa novo dia que logo se finda ali,
entre dúvidas e medos, desamores e segredos.
Eis sua essência... Como fugir?