A fome
A grande boca pelada e escancarada,
lembrava-me a capa de um disco do tempo da flower power,
os olhos negros e fixante sobre uma vasilha de sopa,
em que ela se deliciava ali sentada de cócoras embaixo daquela,
árvore, vestida com andrajos, aquela velha mendiga, ali entretida em seu mundinho saciando a sua fome de um dia. Um pombo tenta se aproveitar das migalhas caída daquela boca murcha e esfomeada, com um rosnado incompressível, afasta os bichos e volta a jogar para dentro seu alimento de um dia. Quieta e muda, caminha cabisbaixa automaticamente, sem querer saber se haverá um novo dia, sumindo entre as arvores da praça.