A BALADA DE ACARI
“Canção de Marielle”
Eu cantarei esta balada
Pelas margens do Acari
Numa negra madrugada
Recordando a Marielle.
Rio devasso, rio triste,
Que as favelas atravessa,
Balas perdidas em riste
Fado vadio que regressa.
– “Fui ao comício proclamar
Minha louca indignação
Com palavras para matar
Toda a miséria e condição.
Não tenho escola nem pão,
Nem justiça me deixaram,
Com violência e corrupção
Desde sempre me trataram.
Minha casa é o que se vê,
Mal tem portas e janelas,
Corre a água em rodapé
E pelo tecto vejo estrelas.
Nasci pobre, cresci nua,
E não sei o que é trabalho,
Minha vida é estar na rua
Sem protecção e agasalho.
Sei que há gente muito rica,
Sei que há gente poderosa,
E a pobreza para nós fica
Na favela vergonhosa.
E há muita desigualdade,
Há terra-tenentes na berra,
Há exploração e iniquidade
E demasiados sem-terra.
O povo não tem voz activa,
Não tem leis nem tem direitos,
A política é permissiva
Com governantes suspeitos.
Só se vêem oportunistas
Com tráfico de ocasião,
Banqueiros e contrabandistas
E polícias com repressão.
Diz-se que há democratas –
Se os há estão mascarados –
E há minorias ingratas
Com direitos esmagados.”
Assim falou Marielle,
Como heroína e activista,
No rio triste de Acari
Com sentido de humanista.
Falou Marielle bem alto
E voaram balas perdidas
Era esse o sobressalto
Do sonho daquelas vidas.
Somos, nós todos, Acari
Nesta balada a cantar
Mas a vida de Marielle
Ninguém lha pode tirar!
Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA