A BALADA DE ACARI

“Canção de Marielle”

Eu cantarei esta balada

Pelas margens do Acari

Numa negra madrugada

Recordando a Marielle.

Rio devasso, rio triste,

Que as favelas atravessa,

Balas perdidas em riste

Fado vadio que regressa.

– “Fui ao comício proclamar

Minha louca indignação

Com palavras para matar

Toda a miséria e condição.

Não tenho escola nem pão,

Nem justiça me deixaram,

Com violência e corrupção

Desde sempre me trataram.

Minha casa é o que se vê,

Mal tem portas e janelas,

Corre a água em rodapé

E pelo tecto vejo estrelas.

Nasci pobre, cresci nua,

E não sei o que é trabalho,

Minha vida é estar na rua

Sem protecção e agasalho.

Sei que há gente muito rica,

Sei que há gente poderosa,

E a pobreza para nós fica

Na favela vergonhosa.

E há muita desigualdade,

Há terra-tenentes na berra,

Há exploração e iniquidade

E demasiados sem-terra.

O povo não tem voz activa,

Não tem leis nem tem direitos,

A política é permissiva

Com governantes suspeitos.

Só se vêem oportunistas

Com tráfico de ocasião,

Banqueiros e contrabandistas

E polícias com repressão.

Diz-se que há democratas –

Se os há estão mascarados –

E há minorias ingratas

Com direitos esmagados.”

Assim falou Marielle,

Como heroína e activista,

No rio triste de Acari

Com sentido de humanista.

Falou Marielle bem alto

E voaram balas perdidas

Era esse o sobressalto

Do sonho daquelas vidas.

Somos, nós todos, Acari

Nesta balada a cantar

Mas a vida de Marielle

Ninguém lha pode tirar!

Frassino Machado

In OS FILHOS DA ESPERANÇA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 18/03/2018
Reeditado em 19/03/2018
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