NAUFRÁGIO
Andando pela praia, o mar me chama
E com carícias rosna e me convida
Para um banho apenas me suplica
E marolas leves os pés me tocam.
Seu cheiro exala amor e me inflama.
Minh'alma já deixou o passo ao longe,
Meu peito já se abriu e, ah! não devia!
Sei que outros se renderam à maresia
E o mar que ora ronrona às vezes ruge.
Na praia vejo restos de ex amores,
Que a ressaca do mar regurgitou.
Estrelas bem mais belas do que eu,
Que um dia ao oceano se entregou,
E em naufrágio o mar os converteu.
Titubeante, enfim, pisei nas águas.
A imensidão a cingir-me na cintura.
Em um proceloso romper das vagas,
Lacrou, Netuno, mais uma sepultura.
Tornei-me agora um com o infinito,
Neste lodo seboso que me envolve.
Na ganga imunda em que habito,
Do mar que ora refuga e ora acolhe.