NAUFRÁGIO

Andando pela praia, o mar me chama

E com carícias rosna e me convida

Para um banho apenas me suplica

E marolas leves os pés me tocam.

Seu cheiro exala amor e me inflama.

Minh'alma já deixou o passo ao longe,

Meu peito já se abriu e, ah! não devia!

Sei que outros se renderam à maresia

E o mar que ora ronrona às vezes ruge.

Na praia vejo restos de ex amores,

Que a ressaca do mar regurgitou.

Estrelas bem mais belas do que eu,

Que um dia ao oceano se entregou,

E em naufrágio o mar os converteu.

Titubeante, enfim, pisei nas águas.

A imensidão a cingir-me na cintura.

Em um proceloso romper das vagas,

Lacrou, Netuno, mais uma sepultura.

Tornei-me agora um com o infinito,

Neste lodo seboso que me envolve.

Na ganga imunda em que habito,

Do mar que ora refuga e ora acolhe.

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 20/01/2018
Reeditado em 22/01/2018
Código do texto: T6231408
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