O que guardei pra você
Quem me dera ter
Um pingo de coragem
Aquele mísero pingo
Aquela artimanha,
malícia - se quiser
Aquela droga maldita
Aquela mão levantada
Aquele peso ardente
Só pra poder
Em seus ombros soltar
Ver o suor escorrer
A boca latejar
Deleite de quem amou
Como é bom o seu penar
Nunca vi céu mais azul
Desde que te vi chorar
Não caia agora
Minhas feridas ainda não fecharam
E essa dor
Às vezes não sara nunca
Não me venha com amanhã
Hoje ainda é dia de festa
Gosto quando finge
Quando os calos de minhas palavras
Cansadas e pouco medidas
Te atingem
Toda vez que te vejo
É uma úlcera mais amarga
Olhe os abutres
Pairando sobre sua carapaça
Seus medos
Sua maldita covardia
Ah sua covardia
Como era linda
Atrás de um sorriso
Que nem seu era
Aprendi sozinho
A matar cada fera
E cumpri, cumpri o que te prometi
Me fiz forte
Rio, como rio da sua sede
Dos seus olhos queimando ao sol
Enxergando a mais clara verdade
Que seus pés não caminham mais
Seu sorriso não brilha mais
Os abutres cuidam do resto
Mas ali está
No canto do que te resta
Tudo que guardei pra você
É sua cama
Que te espera há tempos
No fundo mais solitário
Daquele abismo que cavaste