O que guardei pra você

Quem me dera ter

Um pingo de coragem

Aquele mísero pingo

Aquela artimanha,

malícia - se quiser

Aquela droga maldita

Aquela mão levantada

Aquele peso ardente

Só pra poder

Em seus ombros soltar

Ver o suor escorrer

A boca latejar

Deleite de quem amou

Como é bom o seu penar

Nunca vi céu mais azul

Desde que te vi chorar

Não caia agora

Minhas feridas ainda não fecharam

E essa dor

Às vezes não sara nunca

Não me venha com amanhã

Hoje ainda é dia de festa

Gosto quando finge

Quando os calos de minhas palavras

Cansadas e pouco medidas

Te atingem

Toda vez que te vejo

É uma úlcera mais amarga

Olhe os abutres

Pairando sobre sua carapaça

Seus medos

Sua maldita covardia

Ah sua covardia

Como era linda

Atrás de um sorriso

Que nem seu era

Aprendi sozinho

A matar cada fera

E cumpri, cumpri o que te prometi

Me fiz forte

Rio, como rio da sua sede

Dos seus olhos queimando ao sol

Enxergando a mais clara verdade

Que seus pés não caminham mais

Seu sorriso não brilha mais

Os abutres cuidam do resto

Mas ali está

No canto do que te resta

Tudo que guardei pra você

É sua cama

Que te espera há tempos

No fundo mais solitário

Daquele abismo que cavaste

Leonardo Ribeiro
Enviado por Leonardo Ribeiro em 03/01/2018
Código do texto: T6215445
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