Pesar perto de minha amada: reino à beira (Edila)mar
Uma voz pergunta-me, distante:
- o que há para ti naquela rua,
naquele bairro?
E respondo:
Há para mim um ser que reparte-se,
reparte-me, um ser amado, meu ser,
há meu dia interrompido, flor de laranjeira
e seu espinho assasino do dia.
Era meu dia.
Havia meu dia, o grito de garganta rouca,
cortada, cicatrizada, em fogo, adagas que esfaquearam-me,
águas marinhas...
Hoje existe nada.
A pouca luz metálica cegou-me tanto que perdi-me,
agora estou perfurado por raízes venenosas,
cruzado, passando, a dor progride
afundando-me no mar mental,
não escrevo estas palavras, sonho-as,
estou noutro espaço:
sonhos trincados, realidade planejada, reino à beira-(Edila)mar...
estou em estado de pesar,
não descubram-me,
já estou descoberto,
o que falta é acordar.