ALÉM DO ECLIPSE
O índio imigrante do semáforo
despiu a fome além do eclipse.
A mulher da pele torrada
nem viu o escuro do dia...
e o sol já tinha devorado
seus olhos de menina retinta.
A moça do farol pede esmola
cheira cola, vende bala,
chupa o chiclete, bebe a sede,
geme como a flor no asfalto...
mas não viu o baile do eclipse.
Porém, meus amigos poetas,
eu vi o eclipse escurecendo
na voz perdida da pura menina
que vendeu seu corpo na esquina.
Fotografei a nudez do eclipse
e cobri todas as dores alheias
na câmera lenta de meus versos.
(Rosidelma Fraga, 2017, registrado em Entretextos e para a obra A lírica dos amantes e outros poemas);