Desata-me de tua alma
Neste tempo,
nesta vida de agora,
não há passados,
não há futuros,
tudo se perdeu,
há apenas o momento,
a estrada de concreto sem curvas,
a saudade congelada,
a lágrima suspensa,
a voz silenciada,
a dor anestesiada,
a esperança golpeada,
na distância,
nas milhas de separação,
na escolha da desistência,
na negação do sentimento,
no atender da sociedade,
nas regras da moral religiosa,
na fixidez dos paradigmas,
no pecado de tua indiferença,
não acredito mais em romances,
em vidas que renascem para se encontrar,
em estrelas cadentes em noites de verão,
porque tu bem sabes,
eu tentei, tentei ser o homem que precisavas,
tentei amá-la como quis desde sempre,
sussurrava o barulho das ondas em teus ouvidos,
soprava o calor das estrelas em teus lábios,
desenhava o arco-íris em tua tez,
te fazia sorrir quando a tristeza a visitava,
mas tudo se esvaiu como areia numa tempestade de vento,
preferistes uma vida morna ao vulcão incandescente,
e agora o que vês além de uma cama vazia?
o que tens além de noites de solidão?
o que esperas além de outra vida para tentar novamente?
Acredite, tua chance escapou,
as correntezas não se represaram,
o trem seguiu seu curso,
não há certezas nas coisas do coração,
não há verdades absolutas nos sentimentos,
tu optastes por virar-me as costas,
por favor, deixe-me ir,
pares de me chamar em sonhos,
quando acordada não tens espaço para mim,
por favor, deixe-me na amnésia,
no esquecimento dos carinhos de outrora,
no apagar da poesia teimosa,
na surdez da melodia arranhada,
deixe-me partir para jamais relembrar,
para nunca mais olhar para trás,
Desata-me de tua alma...