Embriagas-me

Já não tenho mais coração

O fel a tudo invadiu...

Estou preso às voluptuosidades

Do amor penetrante que ligou

Seus ganchos nos mais tenros

Locais de minha alma, e cedi

Com incrível flexibilidade

A todos os seus desejos.

Tenho sede dos teus prazeres,

Amo vida fácil, faustosa

E magnífica que emcontro

Somente em teus braços

E onde embriago-me de felicidade.

Neófito, exijo a selvagem energia

Dolorosa que eflui de teus olhos.

Meu bolo rosto já desbotado anuncia

Que esperanças malogradas

Tem me cansado e deixado

Nas minhas entranhas sulcos onde os

Grãos semeados jamais germinam.

Devia tê-lo estudado antes de

Deixá-lo ver como se manifestam

Minhas emoções e meus pensamentos.

Lançamo-nos na tática do sentimento,

Falamos em vez de agirmos,

E travamos batalha em vez de fazer cerco.

Arruinamos-nos com frequência,

Desgastando nossos desejos no vazio.

Entramos em campanha com estandartes

Desfraldados, orgulhosos, com ardor

Para tudo derrocar, e terminamos

Por voltar à casa, sem vitória, envergonhados,

desarmados, tolos por nosso vão barulho.

Estou às voltas com um daqueles sofrimentos

Infernais que somente podem ser perfeitamente

Compreendidos por eminentes artistas.

Compreendes então o quanto embriagas

Minha doce sobriedade, o quanto matas

Minha pobre vida?!

Descansa em cântaros de vinho meu

Divino amado, embriagas-me, embriagas-me!

PauloAndrade
Enviado por PauloAndrade em 22/06/2017
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