Esquece-me

Esquece-me

Faz-me outra de tuas memórias nocivas

Enterra-me debaixo de sete palmos de terra fria

Não deixa-me ter esperança no seu olhar vazio

Já foram tantos os ventos que sopraram

Tanta poiera que foi levada

Mais um grão que eu tenha virado

Não fará diferença naquele teu porta-retrato

Outro sereno que cai nas noites de Junho

Que já escorreu na janela suada do nosso quarto

Hoje não passa de outra gota de orvalho doce

Tremulando nas bochechas coradas de um rosto lúgubre

Me deixa de uma vez por todas

Joga-me fora como outro de teus casacos obsoletos

Afinal, o inverno anterior foi mais frio

E tudo que te aqueci, hoje é só parte da coleção passada

Vou-me então, carregando os trapos que sobraram

Remendá-los numa manta dupla

Proteger-me do vento que bate

Ou secar as gotas de orvalho."

16/06/14