Tempo
Vomitando poesia esvaio mágoa e rancor
lacerando as palavras que reconstroem meu íntimo pouco atingível
caio na hemorragia débil do tempo estragado sem furor
e torno-o fortaleza de rocha destinada enquanto torno à goela o vinho
minha cabeça segue atordoada em síncope de pensamento e alegria de dor
meus olhos tem outros olhos, teus olhos
olhos desgraçados que desgraçaram meus olhos descrentes e cerne
me cegaram e esquartejaram
desatinaram meus sinais e sintomas
virei bituca de cigarro no asfalto da via expressa
amassado por quem passa e nem sabe que amassa
dor silenciosa e insensata
tempo que vem e vai vira e viraliza
que traz ardência arrebentada da esperança do fim
inicio
depois
naufrágio de dor navio emborcado em flor de loa
tempo que passa rápido nos paralisados e transeuntes dias
que jorram sangue de tempo morto e ilusões
tempo.