OS SONS DO SILÊNCIO

A voz da Natureza é trazida p´ los sons

Que do silêncio saem

E se cobrem de cor, repintados de tons

Numa tela onde caem.

Pelos sons do silêncio que a vida contém

Sempre justos e sãos,

Quando há algo qu´ ocorre e sentir já não tem

Não os há por aí bons:

Correm sons do silêncio nas ondas do mar

De ruídos tamanhos

E no espaço se perde uma criança a chorar

Dando gritos estranhos.

Correm sons do silêncio no canto das aves,

Fresca fonte da água,

E naquele santuário de altíssimas naves

Soam cordas de mágoa.

Correm sons do silêncio num cavalo que passa

Sem atraso ou demoras

E a lufada das virgens num palco sem graça

De alternância nas horas.

Correm sons do silêncio na negra floresta

Quando o fogo crepita

E no tamborilar das promessas com festa

De quem não acredita.

Correm sons do silêncio na noite que chega

Com a mesa vazia

E nos sonhos rasgados da classe que é cega

E só tem fantasia.

Correm sons do silêncio na torrente dos rios

Com margens violentas

E há canoas sozinhas com fome de estios

Nas ribeiras sedentas.

Correm sons do silêncio na espuma dos pés

Das marés a baixar

E no largo horizonte um navio em convés

Quase, quase a chegar.

Correm sons do silêncio subindo as colinas

Que atravessam a aldeia

E na febril correria há meninos, meninas,

Que a saudade incendeia.

Correm sons do silêncio nas horas da torre

Chamando para a missa

E na máscara dos dias no corpo decorre

Uma febre submissa.

Correm sons do silêncio no palco da gente

Que a razão não alcança

E na luz da experiência, o passado é presente

Sem amor nem esperança.

Correm sons do silêncio por todo esse mundo

Sob o manto da guerra

E o suspiro da Paz permanece jucundo

Neste palmo de terra.

Correm sons do silêncio que faz governantes

Nos seus gestos braçais

E do mundo o seu tempo não é como dantes

Pois já não volta mais.

Correm sons do silêncio nalgum desencanto

Que a família dispersa

E num louco poema, composto de espanto,

Minha lira professa.

Correm sons do silêncio chamando a Poesia,

Pelos versos achados,

E na Musa que mora nos sons d´ harmonia

Dos poemas sonhados!

Frassino Machado

In AO CORRER DA PENA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 10/02/2017
Reeditado em 10/02/2017
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