NO PAÍS DOS TRAFULHAS
“Paráfrase temática em Jorge de Sena”
Tiro da minha pena este poema delirante
Pra dar sentido à mais que justa indignação
Sem procurar algum efeito ou sensação
Pois que vivemos num país recalcitrante.
Neste país, de virosices inquietantes
Que teima em insistir na vil infestação,
País onde pulula, sem consideração,
A abjecta oportunice sempre lamentante…
Neste inverno, que mais parece triste outono
Em que os valores são como folhas a cair,
E em que se hesita entre o cá ficar ou sair:
País de gripalhadas ou país-sem-dono!?
Não há países como havia antigamente,
Em que eram toleradas certas malandrices,
Mas só em carnavais co´ as suas traquinices,
O que era mera terapia pra toda a gente.
No país dos trafulhas, ser trafulha e meio?
Não, porque cada um ao ser pelo menos dois
Já se ajusta muito bem a canga aos bois
Dando à questão toda a razão, o qu´ é bem feio.
Olhe-se à volta e ver-se-á claro em toda a parte:
Enganar tudo e todos é acto de pouca monta
E, assim, neste País – um país do faz de conta –
A “trafulhice” transformou-se em «obra de arte».
Ai País, que já foste obreiro … Hoje, és nevoeiro!
Frassino Machado
In ODIRONIAS