Auto ultimato

Esta é a última lição ao meu coração, irmão, tolo, impensante, que em seus voos rasantes nunca mais conseguiu subir às nuvens; evaporou sua felicidade e a minha, me traindo quando eu fui mais fiel, me deu o seu fel e o dessabor, do antes se de fato, realmente houve amor. Mesmo contando os tormentos, havia luz, havia amor que induz.

Meu erro? Buscar águas no deserto, querer não ver os mananciais pela tangente de tantas gentes aqui ali com faturas a abundar em amar, não me dei a quem de fato o queria. Recebi este – último – ultimato, onde ou morro ou mato.

Se morro, tu morres também, se mato tu serás passivo, desse amor quase compulsivo. Teus atos instintivos me logravam, achavam que me amavam, vivendo na penúria, alimentei as injúrias, e nos matando, mesmo amando parcial, fiquei quieto esperando esse final.

No banco dos réus, tu és o infiel, as posições estão trocadas, eu seria o promotor, tu, o sem amor cruel, e fazendo-te jus a Maquiavel: “os fins justificam os meios”.

Calculaste precisamente apenas teu prazer, esse teu coração doente difamando-me com a imagem que tu não tens, preocupa-te apenas com a imagem e a selagem que a sociedade faria de ti, mas não sabes que o crime nunca compensa? Se pensas, remodela-te, para um novo corpo e baterás firme este coração de novo.

A ti, fiz poemas cálidos, externei o que de fato tanto amei. Fiz de ti um espelho com bordas de vermelho para te ver do outro lado, mas foi ficando opaco, fiquei só vendo a mim e pensando: estou sonhando? Roubaste meu coração e o colocaste no mastro em alto mar, ainda bem que sei nadar, e é o que farei, e tirarei essa sensação de enjoo por causa das ondas que vem e vão; já não tens mais meu coração, e hoje, devolverei no fórum a tua mão que só foi ilusão e para não ficar na solidão, prepararei de novo meu coração irmão.