Talvez ainda exista
Talvez exista um pouco de nós nesses versos. Uma parte que se perdeu, jogada no chão.
Talvez ainda exista aquela bituca de cigarro que você acendeu, seu último jogado ali, afinal.
Talvez exista um pouco de nós, em alguma esquina da qual andávamos.
Talvez ainda exista aqueles beijos que se perderam, aquelas vontades que foram massacradas, aquele seu cheiro de bebida barata.
Talvez, em algum lugar, desses que faziam parte de nós, eu a encontre.
Planejo esse encontro faz muito tempo, desde que seu cheiro impregnou em mim com a sua ida.
No início, pensei em gritar. Surtar. Seria mais um louco no meio da rua, e muito provavelmente você não daria atenção. Sempre odiou espetáculos assim.
Depois, surgiu uma nova ideia, que permanece até então.
Chamaria você para ir no barzinho perto da nossa antiga casa.
Diria "vamos, para celebrar os velhos tempos".
Te daria quantos cigarros quisesse.
Mas se você recusasse, ficaria tudo bem. Te ver já seria um prêmio.
Mesmo minha alma querendo gritar "por que você me deixou? Por que fez isso comigo? Olha para mim, olha o que me tornei!".
Mesmo com a raiva aqui dentro, adoraria apenas ouvir o silêncio entre nossos corpos.
Corpos machucados por esse amor acabado.
Mas, não consigo parar de pensar que talvez ainda exista um pouco da gente em algum lugar, perdido.
Ainda acredito que nosso amor daria um belo filme.
Uma bela música.
Um belo poema, e nele eu iria escrever as palavras que você sempre mereceu.
Porque, se eu conseguisse te encontrar nessa cidade enorme, talvez eu reencontrasse aquele antigo homem que eu era.
Talvez ainda exista um pouquinho de nós, espalhados por aí, e essa esperança me deixa momentaneamente bem.
Talvez precisamos de fato nos perder para só então nos encontrarmos.
Sendo assim, você já pode parar de se esconder.
Porque ainda deve existir um pouco de nós esparramados pelos bares dessa cidade barulhenta.
Ainda deve ser amor.
Ou só saudades.