A DIVA CULPA
Este Mundo é como é
E não há nada a fazer
Quer se ore ou cante na Sé
Ninguém o irá converter.
Toda a gente estica o dedo
Dando-lhe a sustentação
Mas ninguém diz o segredo
Da falta de contrição.
Diva Culpa é que é o mal,
Eis a verdade certeira,
Por isso, como é natural,
Morrerá sempre solteira.
O grão Mestre Criador
Também tem a Sua culpa
E por semear o pavor
Jamais merece desculpa.
O Mal ultrapassou o Bem
Recoberto de fantasia
E agora já não há quem
Assuma esta anomalia.
No palco das emoções
Há uma peça a decorrer,
Dramas e falsas visões,
Mas sem olhos para Ver.
Os actores são divergentes,
Cada qual faz o seu jogo,
Por entre taras diferentes
Pintam a Culpa a seu modo.
Nesta farsa interminável
Viaja o combóio da Vida
Que dá um mundo abominável
Numa Civilização perdida.
Quem usa desta engrenagem
Tem nome de El-rei Dinheiro
Sua Culpa voa na aragem
E dá volta ao mundo inteiro.
Vagueia a Culpa pela rua
Co´ os Maiorais de mão-dada
Em tarefa que desvirtua
O fim pra que foi criada.
Toda a coisa é obra de arte
Num mundo de contingência
A Culpa está em toda a parte
Num finca-pé de demência.
A Diva ciranda por cá
E não tenciona ir embora,
Anda hoje, anda amanhã,
Cada dia e a cada hora.
Sim, a Culpa é o mal Maior,
Todo o mundo lhe dá razão,
Mas ninguém sublima a dor
Dos pobres filhos de Adão!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA