Não te reconheço
Eu estou cego
A neblina forte levou a memória
E os ventos nossa história
Que terminou cedo
Jurava que eras de verdade
E que tinha a felicidade
De saber que estavas comigo
Pedia-te até um abrigo
Como uma miragem
Sumiste na seca paisagem
Se um dia voltar, não te reconheço
Viraste apenas um alguém
A tua voz ficou muda
Em meus ouvidos, surda
Passo pelo teu lado e não te vejo
Um ser invisível e sinto o indesejo
Talvez um fantasma apareça
E mesmo assim não te recomeço
És, pra mim, um morto pedaço
E me recuso a lembrar dos abraços
Daqui alguns meses, mexerá em meus móveis
E eu ficarei assustado ou indiferente
Com ser dito "decente"
Querendo voltar aos contos amáveis
Meus olhos de pedra escurecem
Toda mente e não amanhecem
Para ver um possível rosto artificial
Indolente, ilegal
Não tente aparecer novamente
Eu não te reconheço
E nem faço questão que transpareça
Teus espaços transparentes
Toco em uma flor
E vejo sinto aquela cor
Em minhas mãos frágeis
Corto em fatias rasgáveis
Era tua foto ali dentro
Agora, eu apaguei.