DA NOBREZA AO POVO
“De Mafra ao Sobreiro”
Badalão, badalão, já tocam as ave-marias
Nas altaneiras torres do Convento
Badalão toca o carrilhão ao vento
Chamando toda a gente para as cortesias.
Dlim, dlim, já toca a grã-sineta para a missa
No alto da fachada da capela
Dlim e já se ouve bem a voz singela
Tocando a alma naquela gente submissa.
Ressoão, ressoão, já se ouve a voz do órgão
Nos claustros majestosos desta igreja
Ressoão, voz de Deus que se deseja
Clamando em coros os seus hinos de eleição.
Rape, rape, nas duras brigas dos ferreiros
Nos loucos fogaréus da triste aldeia
Rape p´ los lares na luz da fiel candeia
Comendo o negro pão do suor dos jornaleiros.
P´ la lei e pela grei, honrando a diva Corte
E servindo banquetes em cada mesa
P´ la lei se batam palmas à nobreza
Fazendo deste mundo um céu de bela sorte.
Haja Deus, haja Deus, façamos-lhe menção
Nas contas do rosário feito fome
Haja Deus que desconhece o nosso nome
Num destino fatal de plena servidão.
Ó céus, ó céus, p´ la Arte a Deus se engrandece
Ó vida, ó morte, ó dor da alma que amanhece!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA