O VIOLENTO RANCOR PLÁSTICO
O VIOLENTO RANCOR PLÁSTICO
É fingida a hora de secar-me ao sol
correndo um sério risco de ter
uma pele igual a morena da tarde
que trouxe nos olhos quase a meia-noite
depois dela transformei tua noite
num sono profundo remediado
acordei antes para ver-te desajeitado
fumos crispados no cinzeiro
uma dose ainda com pose de beber
pela mão que segura e não dorme junto
parece querer terminar um assunto
sobre toda desculpa que poderia ter
dito e não pode
tua mão clareada diante do abajur
fala sozinho quando mal sinto
um calor preterido
do que um frio que vem saindo
estava beijada do autografo
com um aroma vulviano
quase uma roupa intima
transparente vingando-se
moldando o véu da viuva numa pintura
que não tem ninguém chorando
somente alguém partindo
e desço resolvendo entender
que o liberto deve ter encontrado-me
aberta possuindo uma liberdade
que na verdade eu não havia
visto antes que o pastor é um idólatra
e o juiz termina um trabalho
pouco importa cada ensaio
que comete um teatro a sua frente
presente mente um dia inteiro
pra sofrer logo depois que resolvemos
ser únicos tornando todo fragmento
da ferocidade dos moteis
dos matagais e estradas curvas
que acontecem nas montanhas
numa luta contínua e suja
de interesse doloroso e "apreciado"
um interesse pago pelos outros...
...na alma morta de amor
vive o violento rancor plástico!
MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - Body and Soul