O teu sentimentalismo
Já faz um tempo que não vejo você.
Sofri muito com a nossa separação.
Só que eu entendi que só eu perdi.
Afinal você nunca se envolveu.
Mas aí, do nada, você aparece.
Recebo as suas flores e um cartão.
Não consigo decifrar o que sinto ao ler suas palavras.
"Saudades das nossas conversas."
Li isso e quase não acreditei.
Em qual planeta você vive?
Não há denotação que dê sentido a uma frase dessas.
Nem Freud explicaria o que te levou a escrever isso.
Agora, refeita da minha surpresa, eu te pergunto:
"Que conversas?"
"Que saudades?"
Conversas essas que sequer poderiam ser adjetivadas como tal.
E essa possessividade está defasada.
"Nossas".
Para ser nossas, deveria ser minhas e suas.
Mas no caso era só um monólogo meu.
A mecanicidade se restringia a um "oi, tudo bem?"
Seguido de "estou bem e você?"
A eloquência passou longe.
E que saudade é essa tão repentina?
Que te confere um ar apaixonado, romântico incurável.
Chega a soar arrependido.
Sinceramente, meu bem, você não passa nem perto desses adjetivos.
Você precisa de aulas de gramática e romantismo.
Deixando bem claro:
Não existe saudades, conversas e muito menos nossas.
Nós somos dois seres que a duras penas tentam seguir em frente.
Tivemos várias oportunidades:
As conversas até madrugadas que nunca existiram,
A falta do outro no fim do dia,
Os passeios de mãos dadas,
A lembrança ao acordar e deitar,
O olhar trocado,
Os sentimentos divididos.
Até isso você não conseguiu entender.
Eu estava totalmente disponível, querendo, criando expectativa,
Sentindo até o último fio de cabelo,
Esperando o teu "sim" para me jogar de cabeça.
Mas você preferiu se agarrar ao medo e recuar.
Sua postura então me libertou.
Nosso tempo acabou.
Passamos na vida um do outro sem deixar a nossa marca.
Por isso, não adianta vir com palavras bonitas.
Eu me ergui sem você.
Agora eu sei ler as entrelinhas.