AS MARCAS

A tua mão, querida,

espalmada sobre o meu peito,

não calculou os batimentos,

nem sentiu o meu coração que rompia.

Era antes o teu braço que media

a fronteira entre nossos corpos,

onde hoje passa um ribeirão rasteiro

e lagartos soltam suas línguas bifurcadas.

Sonho.

O teu olhar,

no arco armado por ti,

me trespassou.

Pensei no segundo da seta.

“A flecha cortará o peixe

que despregará escamas até o limiar da dor.

Serei então a moréia,

um esturjão,

o Boca Aberta”.

Nem as postas do nosso amor

permaneceram comigo.

Mas, ainda assim, querida,

aqui me apresento como um espelho d´ água.

E que você reflita em mim

um batom obsceno,

tenros seios

e teu dúbio umbigo de sereia.

DO LIVRO: BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 08/08/2016
Reeditado em 08/08/2019
Código do texto: T5722722
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