Pedir-te Algo? Jamais!
Pedir-te Algo? Jamais!
Jamais te pedirei para voltar,
Fazer-te renascer das cinzas
Que o fogo da tua insanidade
Ateou e te consumiu voraz.
E nem as gotas d’ orvalho
Choradas sobre ti e por mim
Puderam extinguir tal ódio.
Somos o nada que jaz inerte.
Que paixão nos faz, ainda, sentir
Esse amor falsamente jurado?
Porque te devo sentir amada
Se o que sinto é átomo amorfo?
Pedir-te para voltar seria um erro
Que prenderiam lágrimas vãs
Nos meus e teus olhos descrentes.
Não voltarei, jamais! Não libertarei
Teus fantasmas loucos de ciúme
Que te submergiram em pesadelos
Do abandono de tua alma à traição.
Se te pedisse para voltar, que dores
Renovariam as suas tenazes ferozes
Do ciúme, da mágoa, da descrença,
Torturando-me o meu mais íntimo?
Reacender a paixão, é-me impossível,
Nada resta para activar fogos fátuos,
Nem mesmo meu corpo envelhecido
E meu coração há muito se esfumou.
Todas as flores são belezas perecíveis
Diminutas no tempo e exíguas da vida,
Que enganam os sentidos e os sufocam
No seu egoísmo exibicionista, morrendo.
És resto de matéria orgânica duma flor,
Porcelana lançada ao solo, quebrada,
Jóia desgastada de riqueza lapidada,
Quem te quer e te pede para voltar?
És texto linear de inacabado poema,
Uma falsa musa, vulto sem espírito
Que vagueia gemebundo pela mente
Do escriba que não te deseja mais.
Nunca foste essa criança dita inocente
Que me libertasse partículas de amor
Capacitadas de osmose e de união
Perene de nós, verdadeiros amantes.
Foste apenas uma fornalha faminta
De ilusões, de fantasias e quimeras,
Foste a fornalha diabólica onde eu
Me consumi, escravo, por inteiro.
Não voltarei jamais, nem sequer pedir,
Aos teus encantos fúteis e ardilosos,
Que me embriagaram de mil conjuras
Perpetradas por ávidas hárpias como tu.
E os grilhões que a elas nos prenderam
Foram por ti moldados no ferro rubro
Que cravaste em mim impiedosamente
Surda a gritos lancinantes de meu amor.
E, se um dia, tomares a insanidade
Que te acometeu de ciosas vilanias,
Em desculpa das tuas maquinações
Reconhecendo que nunca amaste,
Que instigastes espias e enredos,
Que me apelidaste de vil culpado,
Sentenciado, executado, sem defesa,
Perdoar-te-ei, mas nunca a mim.
E, se um outro dia, reconheceres
A derrota da tua infame cobardia
Sediada do veneno da suspeição,
Na imputação dos mais vis pecados,
Com a tua permissão e aplauso,
Jurei vinganças mil. Consumiam-me!
A indiferença é a bênção final.
Perdoar-te-ei, mas jamais a mim!
Erraste em desejar-me submisso
Ao desejo do momento sonhado,
Erraste ao cravar-me de punhais
Envenenados pelas tuas serpentes
Aliadas por dores e partos suspeitos.
Se disseres: “errei, também, perdoa”
Perdoar-te-ei. Cedo, coração vazio,
Ao teu pranto, mas não me perdoarei.
Não! Não vou voltar, jamais sequer pedir!
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