Consumação: De Calcinante a Impassível
Mesmo na espera da madrugada para um encontro de prazer,
Não atribuo mais presentes imaginários para cada um de seus praticados atentados.
Mesmo querendo seu comando para me vestir e despir,
Não saio mais de casa a sua procura com vestido de cetim e levo meu sutiã.
Mesmo ainda sentindo seus braços me puxando, seus olhos me comendo, sua rouca voz profanando,
Não faço mais sexo verbal e imoral.
Mesmo me arrepiando ao lembrar dos seus untuosos beijos e da sua forte penetração,
Não deixo mais escorrer uma gota de suor na ânsia por você.
Mesmo ouvindo o canto do sabiá da madrugada e imaginando sua partida para que eu me recupere do gozo,
Não ouço mais "Etta" e sua blusa virou uma boneca de cheiro.
Mesmo olhando o correio, comprando o vinho, preparando o queijo com geleia,
Não ouso mais pisar no seu endereço de rimas, pois certamente ali reside outro casal.
Mesmo havendo em minha lista ainda muitos delírios,
Não quero mais sua razão, porque só consigo ser paixão.
(22.10.15)