PRIVEI COM O CAPITÃO

“Memorial a Salgueiro Maia”

Eu privei com o Capitão

A uma mesa de café

E vi-lhe um bom coração

E uma alma cheia de fé.

Foi uma tarde em Lisboa

Em singela esplanada,

Uma imperial fresca e boa

Para o ilustre camarada.

Veio ao Colégio Militar

P´ ra receber mordomias

E a classe não lhas quis dar

Ficando p´ las honrarias.

- Não é por mim, mas p´ los meus,

Eu nem quero promoções

Mas assim, valha-me Deus,

É de partir os corações…

- Se soubesse o que sei hoje

Nunca arriscaria a vida,

O Abril que fiz já me foge

E eu tenho a saúde fodida.

O Capitão estava triste

Pela sina que lhe calhou

Ao ver que a Pátria desiste

De um país que o enganou.

Por cumprir o seu dever,

Como ele talvez haja mais,

Não conseguiu ascender

Aos direitos convencionais.

Abrindo o baú das mercês

Vai, todavia, o Presidente

Condecorar este português

Para espanto de certa gente.

Co´ a comenda do Infante

Se premeiam alguns heróis

Mas nada muda a montante

Nem neste nem noutros sóis.

Aqui fica a moral da história,

Pros cidadãos malfadados:

No que toca a ter memória

Uns são filhos, outros enteados!

Frassino Machado

In CANTARES DE ABRIL

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 26/04/2016
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