PRIVEI COM O CAPITÃO
“Memorial a Salgueiro Maia”
Eu privei com o Capitão
A uma mesa de café
E vi-lhe um bom coração
E uma alma cheia de fé.
Foi uma tarde em Lisboa
Em singela esplanada,
Uma imperial fresca e boa
Para o ilustre camarada.
Veio ao Colégio Militar
P´ ra receber mordomias
E a classe não lhas quis dar
Ficando p´ las honrarias.
- Não é por mim, mas p´ los meus,
Eu nem quero promoções
Mas assim, valha-me Deus,
É de partir os corações…
- Se soubesse o que sei hoje
Nunca arriscaria a vida,
O Abril que fiz já me foge
E eu tenho a saúde fodida.
O Capitão estava triste
Pela sina que lhe calhou
Ao ver que a Pátria desiste
De um país que o enganou.
Por cumprir o seu dever,
Como ele talvez haja mais,
Não conseguiu ascender
Aos direitos convencionais.
Abrindo o baú das mercês
Vai, todavia, o Presidente
Condecorar este português
Para espanto de certa gente.
Co´ a comenda do Infante
Se premeiam alguns heróis
Mas nada muda a montante
Nem neste nem noutros sóis.
Aqui fica a moral da história,
Pros cidadãos malfadados:
No que toca a ter memória
Uns são filhos, outros enteados!
Frassino Machado
In CANTARES DE ABRIL