Teu coração!

De que é feito um coração?

Pouca me importa de que é feito, sem defeito,

puro ou inanimado,

posto dentro de um só peito,

até que, por outro, seja transplantado.

Me importa de que são feitas as coisas com que fazem

os corações.

Importa-me saber delas, e do artesão, e pronto!

Teu coração foi feito de matéria puída,

podre como a morte embestecida,

como algo posto no mundo para ser parte da escória

Teu coração é um lixão sem dono,

fétido lugar como o pior dos abandonos,

um monte de esterco envenenado pelos vermes,

os mesmos que nadam em tuas veias

como loucos peixes, judiada sereia,

a dor que só mensura quem nela vive.

É triste, sim, por que não?

O que pode dizer a morte para o caixão?

A urna para o defunto?

Uns falam o que dizem, outros se calam no que falam.

Teu coração é broto envergonhado dentro de teu peito,

sem amor pelos outros e sequer respeito,

uma tocha fumarenta sem poder jamais ser reacesa,

a dor da pior picada da mais infame vespa,

Você!