LIBERTA

LIBERTA
Miguel Carqueija


A mulher não deve ser
escrava do coração:
se o homem trai seu dever
traição é traição.

Amor próprio também tenho,
não penses que és mais que eu;
amei-te com todo empenho
pensando que eras meu.

A vida eu comprometi
seguindo triste ilusão:
longos anos eu perdi,
manchaste meu coração.

Tu que vives nas mentiras
pensas que eu sou tua igual:
não importando quem firas,
segues a rota do mal.

A calúnia e a perfídia
são a tua distinção:
porém depois desta insídia
te darei minha lição.

Não penses que eu tenho medo,
sei bem como te enfrentar:
de mim terás o degredo,
às outras vais procurar.


Não troco a dignidade
por um prato de lentilhas
e agora digo, em verdade:
separam-se as nossas trilhas.


Pois disse o principezinho
naquele livro amarelo:
és menos que um homenzinho,
não passas de um cogumelo!

Com meus pais eu aprendi
que tenho honra e decência,
este caminho eu segui,
sei que tomaste ciência.

O homem quando é canalha
pensa o mesmo da mulher:
que ela é da sua igualha
e fará o que ele quer.

Mas comigo te enganaste
e a mim tu não pisarás:
muito mal tu calculaste
e agora tu verás.

Eu nunca soube odiar,
não vou começar agora:
assim vou me limitar
a mandar você embora.

A vida tem seu espinho,
nem tudo é torta e pavê:
vou seguir o meu caminho
sem me lembrar de você.




Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 2016


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