Cruz
Passei sob palpos antigas garatujas,
E optei por plasmar uns novos riscos;
De amarga saudade, todas estão sujas,
sonhei um ninho, vento espalhou ciscos...
os versos que restaram foram lambuja,
que chegam ao hoje desde dias priscos;
desserviço, pois, caso a lembrança fuja,
o poema devolve a ovelha aos apriscos...
contra solidão não há um leão que ruja,
não teme a força, arresto, ou confiscos;
esses animais noturnos como a coruja,
ante a luz do dia se fazem meio ariscos...
e a solidão é bem assim como a dita cuja,
que vê só alvos que não pode ser vistos;
pois a férrea realidade presto enferruja,
habita os devaneios, anseios não quistos...
que vale que a trombeta do dia estruja,
dos, recuerdos, da escuridade são mistos;
inútil esperar que a vaca de gesso muja,
desamor é cruz; desamados, inúteis Cristos...